Por Marcus Larbos
Vocalista das bandas Panaceah e Liverking
Apresentador do programa Melting Point Rádio RST

Se há um assunto que volta e meia sempre vira pauta nas conversas da galera do rock and roll em geral, quer seja nos encontros em shows, lojas, churrascos, mesas de bar ou redes sociais é justamente como o som autoral e a relação com o público vem se modificando ao longo do tempo. Muita gente inclusive de maneira nostálgica lamenta que hoje em dia perdemos tanto em termos de inventividade e criatividade como na admiração do público em relação às bandas, as quais tinham o status de ícones e detinham uma espécie de magia que envolvia toda a cena. A década de setenta por exemplo é praticamente uma unanimidade quando falam que foi a época de ouro do rock em geral, onde tivemos as melhores bandas, as mais influentes e as que criaram estilos próprios que até hoje são referências e que são frequentemente copiadas. No caso daqui do Brasil isso se tornava evidente levando se em consideração o número de bandas de alto nível e com vários álbuns clássicos e atemporais.


Muitos narram suas idas às lojas a procura de L.P`s que não tinham ou até mesmo de bandas que não conheciam; Outra forma também de obter acervo e conhecimento de forma mais barata era recorrer a amigos e a programas de rádio, de onde poderia gravar determinado álbum ou música em fita cassete. Todos esses fatores determinavam pontos positivos pois não só incentivavam a curiosidade musical, bem como fomentavam uma pró atividade e uma interação social diferenciada.

Mas se o “casamento” público/banda estava tão apaixonado, qual foi a “espoleta” para tal ruptura e de que forma isso se deu?

Este período teve muitas alternativas e era mais frequente, menos dinheiro no geral, mas mais oportunidades de realizar produções, shows e eventos como um todo. (Cláudio Paula – Produtor cultural e jornalista)

As respostas para esse fenômeno e os motivos são muitos, como por exemplo o surgimento de outros estilos que se tornaram uma tendência comportamental e tomaram grande espaço na mídia, onde inclusive ditaram moda como no caso do punk e do new wave. Dessa maneira, o público não só não se renovou como se tornou mais escasso, e acarretou com isso o fechamento de muitos locais de shows e o desinteresse de vários selos em investir e lançar álbuns das bandas do estilo.

 

O mercado musical autoral no passado tinha um termômetro que eram as gravadoras que de certa forma regiam ou norteavam o conteúdo artístico das bandas.  (Ives Pierini – músico e produtor cultural)

Como era de se esperar, muitas bandas acabaram parando as atividades ou se renderam a mudar a orientação do som para se adequar à nova realidade de mercado, o que desagradou muito aos fãs mais fiéis.

Tudo ficou muito mecânico, poucos vivem de fato a música, o cinema, a literatura, artes plásticas, o teatro… tornou-se instantâneo, passageiro, descartável… (Michael Meneses –  Editor da Rock Press e criador do Selo Cultural Parayba Records )

A partir daí, mesmo ainda com os formatos analógicos, já se viam traços evidentes de uma centelha da globalização através de vídeo clipes cada vez mais frequentes em programas de televisão e até em canais específicos. Com isso muitas bandas e artistas ganharam extrema notoriedade de uma forma muito mais abrangente rápida do que no passado.

MTV – Início do Mercado de Vídeo Clips

Nos meados dos anos oitenta eis que começa a transição da substituição gradual do vinil analógico pelo CD digital, o que dividiu novamente opiniões, tanto pela parte estética como no quesito qualidade sonora, inclusive essas questões perduram até os dias de hoje e nisso também se inclui as extensões de arquivos e plataformas digitais. Em função disso, a partir do início para o meio dos anos noventa outro tipo de relação dava sinais de mudança, que era entre as bandas, os selos e gravadoras. Com o advento dos arquivos de compactação e compartilhamento aliado a uma internet em constante evolução em todos os aspectos cotidianos, experimentamos um novo conceito para troca e obtenção musical e isso acarretou uma transformação no modo de como a partir daí os artistas começaram a modificar as parcerias com selos, shows e público em geral, pois em termos financeiros a mídia física entrou em franca decadência e isso pedia novas estratégias.

NAPSTER – Primeiro golpe nas estruturas das grandes Gravadoras

Hoje, se vê muita movimentação e bajulação às bandas e músicos nas mídias sociais, mas pouco movimento presencial. Isso cria uma falsa proximidade, e não gera aproximação, presença mesmo ou um suporte real ao trabalho das bandas. (Cláudio Paula – Produtor cultural e jornalista)

Em virtude desses episódios muitas bandas passaram a não ficar mais reféns ou subordinados dessas gravadoras e empresários, os quais ditavam boa parte da vida desses artistas, que iniciaram um movimento de independência gerenciando a própria carreira, tanto no âmbito gerencial quanto musical. Outro fator  relevante foi o avanço na engenharia de som que permitiu uma maior “democracia musical” em termos de que proporcionou de modo mais acessível instrumentos de qualidade e equipamentos de gravação de ponta.

Hoje o artista ou grupo pode totalmente se autoproduzir e se gerenciar, contudo, a cultura de consumo de musica no Brasil. (Ives Pierini – músico e produtor cultural)

Como se não bastasse, a partir do ano 2000 entram em cena com força as redes sociais como Facebook, Youtube e diversas plataformas digitas que oferecem uma enorme gama de conteúdo digital e opções musicais, onde por um lado trouxe a comodidade e praticidade mas por outro “banalizou” a música e o artista, sobretudo os menos conhecidos;

Todos esses fatores vieram gradativamente influenciando as mudanças comportamentais e musicais da geração dos dias de hoje; Uma boa prova disso é a falta de “fidelidade” a determinados artistas, eventos ou shows, onde o que vale é estar inserido em um grupo social e não tão somente o gosto individual que virou algo coadjuvante desde então.

Com o início da popularização da internet na virada da década de 1990 para 2000 a coisa começou a desandar com uma acomodação geral. (Michael Meneses –  Editor da Rock Press e criador do Selo Cultural Parayba Records )

Nesse momento quase que apocalíptico que vivemos atualmente, fomos forçados a mudar nossos hábitos por motivos óbvios, e com isso a parte musical tem sido afetada, mas de um modo peculiar. Se anteriormente muitos perderam o costume de ir a shows, principalmente aos autorais undergrounds ou de participar de encontros do tipo, hoje temos diversas “Lives’ de artistas e estamos também ressuscitando o formato dos antigos Drive thru`s em apresentações ao vivo.

Creio que pós-pandemia, durante algum tempo, haverá uma certa restrição, por parte das pessoas, de frequentar locais fechados”  (Cláudio Paula – Produtor cultural e jornalista)

Evidentemente toda essa interação musical entre o público e bandas sempre esteve numa constante mudança, mas o que resta saber é como ficará tudo isso daqui por diante com o fim dessa pandemia e quais serão as transformações que virão pela frente….façam suas apostas! 


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