Por Marcus Larbos
Vocalista das bandas Panaceah e Liverking
Apresentador do programa Melting Point Rádio RST

Dos diversos episódios que vem ocorrendo ao longo desse ano de 2020, um dos que mais me chamou a atenção foi o “caldo entornado” pelo estopim da intolerância racial nos EUA, que culminou com aquele crime absurdo e covarde vitimando George Floyd e que gerou toda essa onda mundial de protestos contra uma das piores mazelas atuais. Diante disso tive a ideia de desenvolver um tema que de certa forma envolvesse esse assunto, mas voltado obviamente para o enfoque do rock.

Não é novidade para ninguém que os negros foram os grandes responsáveis por influenciar não só vários estilos musicais como principalmente o Rock, através das raízes do jazz e principalmente do blues.

Pink Anderson – Floyd Council

Temos exemplos claros desses desbravadores em nomes como os grandes Chuck Berry, Little Richards e Ray Charles os quais plantaram a semente do estilo, como o “divisor de águas”, o genial Jimi Hendrix que foi um dos principais responsáveis senão o maior de não só revolucionar a forma de se tocar uma guitarra como de elevar o patamar do instrumento de coadjuvante para protagonista do estilo.

Ray Charles – Chuck Berry – Little Richards

Hendrix trouxe muita coisa de inovação não só na guitarra como também em técnicas de gravação. Então acredito que se ele estivesse vivo com a variedade de recursos que temos hoje, com certeza o Rock estaria em outra direção. (Emerson Mello: Guitarrista da banda Dancing Flame)

Jimi Hendrix, se estivesse vivo, nos dias de hoje, ele sobreviveria com um público fiel, que o acompanha desde o início de sua carreira. (Omar Macedo: Músico e baterista)

Hendrix foi um desses raros vultos que ultrapassaram os limites do possível e subiram o nível do que muitos achavam que já era o ápice e  sem Hendrix não teríamos os Guitar Heroes de hoje em dia;  Se ele ainda estivesse vivo, talvez sua psicodelia elétrica ainda estivesse servindo de inspiração e seu talento irreverente estivesse incentivando outros a buscar voos mais altos e experiências fora do convencional. (Luciano Drakkon: Baixista da banda Ho Drakkon Ho Megas)

Jimi Hendrix

A partir daí o que se viu foi uma enxurrada de excelentes bandas no final dos anos sessenta e os setenta todo…era a década do néctar do classic rock e do progressivo e de onde vieram nossos principais ícones.

Uma segunda guinada se deu então a partir do final dos setenta para inicio dos anos oitenta através de um sujeito chamado Eddie Van Halen, que foi outro “Moises” da guitarra para a época com seus solos e técnica diferenciada.

Bom, mas na verdade essa introdução toda é para colocar a tal questão que nunca foi respondida: Por quê temos tantos excelentes músicos negros, mas vemos tão pouco no meio do rock?

 Acredito que não tenha um fator único que tenha levado a isso e sim causas diversas; A música é reflexo da sociedade em que vivemos, então houve um tempo em que o Blues falava a realidade dos negros daquela época, depois o Soul e o Funk tiveram esta relevância.  (Emerson Mello : Guitarrista da banda Dancing Flame)

Evidentemente temos diversos exemplos de bandas e músicos, mas que são uma gota comparada ao imenso oceano que são os demais músicos brancos.

Podemos citar bandas como Living Colour e Bad Brains, que apesar de estilos distintos são totalmente ecléticas e singulares e temos exemplo de músicos isolados como o baterista Johanne James (Threshold), o baixista e vocal Doug Pinnick (kings X ), o baixista Phil Lynott (Thin Lizzy), o guitarrista Rocky George, e os vocalistas Katon de Pena (Hirax) e Bonz (Stuck mojo) dentre outros.

Então nos questionamos: será que foi uma coisa preconceituosa do rock em segregar e discriminar as demais raças ou era algo que delimitava uma classe social e um estereotipo de forma fechada?

Phil Lynott – Johanne James – Katon de Pena – Rocky George

Acredito que isto seja uma questão cultural e infelizmente, na maioria dos casos, dependendo do estilo e região também tem a questão racial…eu tiro como exemplo, aqui no  Brasil, creio eu que…40% de pessoas que curtem Rock são de fato, negros. (Omar Macedo: Músico Macedo: Músico e baterista)

Sim, porque vemos muitos músicos negros, asiáticos e até indianos em bandas de jazz, Pop, blues, etc mas esse contingente não percebemos nos estilos do rock em geral.

Havendo o predomínio de bandas com integrantes brancos como principais expoentes durante os anos 60 e 70, o Rock mainstream atual começou a ser moldado seguindo essa fórmula; A nível popular é muito mais fácil vender a “boy band” com seu “roquinho” despretensioso do que a banda negra, ou até mesmo mista, que desce a lenha, não só musicalmente, mas também nas questões ideológicas. (Luciano Drakkon: Baixista da banda Ho Drakkon Ho Megas)

Antigamente poderíamos até supor pela questão cultural, que esse postulado ainda que errôneo poderia de certa forma se justificar de maneira um tanto frágil, mas nos dias de hoje, com a tal da globalização e de vários filhos de imigrantes espalhados pelo mundo talvez hoje isso caia por terra.

Temos então mais um debate que esperamos através dessa resenha, evoluir tanto como seres humanos bem como músicos e ouvintes do bom e velho rock and roll


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