O Curved Air era uma das mais bem sucedidas bandas da primeira era do rock progressivo. Seus primeiros discos frequentavam os charts e suas músicas eram veiculadas em rádios e programas de TV pela Europa. Contudo, o ambiente interno era de tal forma deteriorado que a banda preferiu romper contrato com a gravadora a seguir em frente com tantos embates entre seus membros.

Os principais focos de desentendimento eram o guitarrista/tecladista Francis Monkman e o violinista/tecladista Darryl Way, os dois principais compositores do grupo. Cada um representava um pólo oposto no direcionamento musical da banda – enquanto o primeiro queria mais experimentação livre e improvisos, o segundo era um perfeccionista que queria obter o máximo de resultado musical em qualquer performance. Essa divisão ficava clara nos discos Second Album e Phantamasgoria, no qual Darryl Way assinava todas as composições do lado A e Francis Monkman, todas as composições do lado B.

Em 1972 o Curved Air havia se desmanchado. Sonja Kristina, vocalista e fundadora da banda, foi atrás de novos músicos; só havia restado ela e o baixista Mike Wedgewood, já que o baterista Florian Pilkington-Miksa havia adoecido em 1971. A nova formação incluía Jim Russel (bateria), Kirby Gregory (guitarra) e Eddie Jobson (violinos e teclados), gerando o álbum Air Cut. Contudo, o sucesso foi muito aquém do esperado e Sonja Kristina resolveu dar uma pausa na banda e foi trabalhar em um cassino. Jobson foi para o Roxy Music e a dupla Russel-Gregory formaram um grupo de blues-rock chamado Stretch. Já Darryl Way havia formado o grupo Wolf, que estava apenas razoavelmente situado no contexto acirrado do rock progressivo inglês. Francis Monkman, por outro lado, ficou um tempo trabalhando nos bastidores da música.

 A Chrysalis Records (que geria o contrato com a banda, cujos discos saíam pela Warner Bros.) estava insatisfeita com o desmanche do Curved Air e com o rompimento do contrato, já que havia o compromisso da banda gravar mais um disco. A solução do impasse foi buscada por vias judiciais e o ganho da causa em prol da Chrysalis praticamente “obrigou” o Curved Air a se reunir para gravar mais um disco e cobrir o rombo financeiro do rompimento contratual. A ideia mais simples para tal era organizar uma pequena tour e gravar performances para um disco ao vivo. Assim foi feito, com a reunião de Kristina, Way e Monkman, somados ao baterista Florian Pilkington-Miksa (já recuperado) e ao baixista Phil Kohn. Kohn era norte-americano e tocava com Darryl Way na nova banda que ele estava formando (Stark Naked and the Car Thieves), cuja carreira estava em stand-by enquanto ele resolvia essa pendência.

Stewart Coppeland, posteriormente famoso como baterista do The Police, foi o gerente da pequena tour de reunião que a banda fez. Nessa ocasião, ele se aproximou de Sonja Kristina, com quem viria a se casar e trabalhar junto. O irmão de Stewart, Miles Coppeland, era empresário do Star Naked, e foi quem indicou o irmão para a empreitada junto ao Curved Air (ele também passou a tocar com o grupo de Way). O repertório do grupo para os shows consistia de um apanhado de suas mais poderosas canções e contava com Sonja Kristina endiabrada nos vocais e nas performances.

O disco saiu em fevereiro de 1975 pela BTM/Deram, captando trechos de duas apresentações da banda em dezembro de 1974 – uma na Universidade de Cardiff (no País de Gales) e outra na Escola Politécnica de Bristol (na Inglaterra). O disco foi produzido por David Hitchcock, produtor que já havia trabalhado com Caravan, Camel, Genesis e Renaissance. Para captar as performances, foi utilizada uma estação portátil de gravação, a Manor Mobile e a mixagem foi concluída no Air London Studios. O disco mostra que o Curved Air não havia perdido o entrosamento, mesmo que essa formação tivesse passado mais de dois anos sem tocar junta. As músicas do show ganharam um peso extra na execução, improvisações embasbacantes e muita precisão instrumental, além de ser possível ouvir a participação calorosa da plateia vibrando com a banda.

Felizmente o objetivo financeiro do álbum foi cumprido, já que os lucros levantados com a pequena tour foram suficientes para pagar a dívida com a Chrisalis e encerrar a questão. Mas lamentavelmente, Francis Monkman e Florian Pilkington-Miksa não viam sentido em continuar na banda após esse compromisso e se mandaram novamente. Tampouco o disco teve um sucesso maciço em vendas, apesar de ter sido lançado em diversos países (Brasil incluso). O único saldo positivo foi que Sonja Kristina e Darryl Way voltaram a trabalhar juntos em uma nova formação do Curved Air, que contava agora com Stewart Coppeland assumindo a bateria. Essa formação gravou mais dois discos – Midnight Wire (1975) e Airborne (1976). Muitos fãs de rock progressivo consideram que Live é o melhor disco lançado pelo Curved Air em toda sua carreira, já que une um repertório inconteste e uma performance avassaladora com a energia de um disco ao vivo.


2 Replies to “Radiografia de um clássico: Curved Air – Live [1975]”

Leave a Comment