Rankings e listas no meio musical são sempre muito polêmicas, como já dissemos em outras ocasiões. 1976 foi um ano que outros estilos dentro e fora do rock começaram a reduzir drasticamente a popularidade que o rock progressivo desfrutava entre boa parte da juventude. Mas ainda sim foi um ano muito prolífico, com lançamentos que hoje figuram entre os clássicos do estilo. Resolvemos nos lançar ao desafio de pinçar as 10 melhores músicas progressivas lançadas naquele ano. Nossa lista também tenta refletir diferentes vertentes progressivas e a riqueza do período. É óbvio dizer, mas vale ressaltar que em uma lista de apenas 10 músicas, fica muito mais coisa boa fora do que dentro. Mas queremos incitar o leitor a nos mostrar seu grau de concordância ou discordância com a nossa seleção através da seção de comentários.

10º – Jean Luc-Ponty – Passenger of the Dark

O violinista francês sempre esteve rodeado de grandes músicos. Passenger of the Dark faz parte do disco Aurora, um dos lançamentos de Ponty em 1976 (seu álbum seguinte também saiu em 1976 – Enigmatic Ocean). Poderíamos pinçar várias músicas desses álbuns para uma versão expandida dessa lista, mas o tema do violino envolto em introspecção e a batida sofisticada não deixam nenhum ouvinte alheio. Em seguida, um fantástico de solo de guitarra Darryl Stuermer faz a coisa toda ferver sobre a base constante de Ponty e os ataques precisos de Norman Fearrington na bateria. Jean-Luc Ponty não deixa por menos em seu solo.

9º – Tangerine Dream – Stratosfear

Stratosfear, a faixa título do álbum, mostra o maquinário de sons sintetizados do Tangerine Dream funcionando em uma rara sinergia entre experimentação e senso melódico. Na linha tênue entre essas duas tendências, o ouvinte fica flutuando em sucessivas paisagens oníricas. A variedade de timbres é fantástica, com uma sonoridade que é passaporte garantido para a viagem.    

8° – Goblin – Dr. Frankstein

Os italianos do Goblin já tinham iniciado uma prolífica parceria com o diretor de cinema Dario Argento no ano anterior, mas em 1976 lançaram um álbum desvinculado das trilhas sonoras, o fantástico Roller. Uma seleção incrível de faixas que mesclam um clima sinfônico com um ar soturno é encontrada nesse disco, mas a coisa realmente pega fogo na faixa citada, com seu baixo estilizado, andamento cadenciado e tensão crescente. A segunda sessão da faixa dá lugar a um fusion arrebatador no qual os diversos teclados de Claudio Simonetti se degladiam.

7º – Eloy – Le Reveil Du Soleil / The Dawn

O Eloy já era pródigo na criação de canções atmosféricas, cheias de frases hipnóticas. Em Dawn, contando com o fantástico baterista Jurgen Rosenthal, a coisa toda adquiriu ainda mais requinte. A construção do tema principal da música é bastante gradual e vai conduzindo o ouvinte pela mão até que a bateria traz solenemente para o primeiro plano um belo solo de sintetizador. Um dos grandes feitos do rock progressivo alemão do período.

6º – Ethos – Intrepid Traveller

Infelizmente o Ethos não é tão conhecido quanto merece. O grupo norte-americano teve vida curta e lançou apenas dois discos. O primeiro deles, lançado em 1976, abre com o petardo aqui mencionado. O ritmo do violão, o mellotron sutil e os ataques pesados da bateria e do baixo que vão se sucedendo eclodem em um poderoso solo de sintetizador, que vai abrindo espaço para os vocais preencherem a canção. O miolo é perpassado por uma bela sequência melódica e ótimo solo de guitarra. Um clima denso se abate por sobre o resto da canção, até que as seções melódicas são novamente postas em cena, mostrando a habilidade da banda em construir um quadro riquíssimo de ideias dentro de um som relativamente curto para os padrões progressivos.

5° – Kansas – Magnum Opus

Os americanos do Kansas estavam em uma escalada de sucesso em 1976 quando lançaram seu quarto álbum, Leftoverture. A faixa em questão é uma bela suíte repleta de influências sinfônicas e ampla demonstração da qualidade instrumental do grupo, com intervenções precisas dos teclados, do baixo, do violino e da guitarra. Os 2 primeiros minutos da música tem uma beleza incrível e já seriam suficientes para convencer qualquer um dos predicados dessa faixa. Contudo, a instrumentação que se segue após os primeiros versos colocam o ouvinte em uma torrente intensa de múltiplos timbres e ritmos, seguida por uma sessão onírica e um novo ataque instrumental que antecede o mesmo tema marcante do início da canção. O título da música a retrata com exatidão – uma obra magna.   

4° – Van Der Graaf Generator – Pilgrims

A candida introdução ao órgão abre alas para o lirismo de Peter Hamill, que alterna magistralmente entre registros agudos e sutis para um vocal grave e rascante ao longo da poderosa faixa que abre o álbum Still Life, um dos principais da longa discografia do VdGG. Os teclados de Hugh Banton são o principal destaque da parte instrumental da música, dando o clima dramático necessário para que Hammil entoe a letra a plenos pulmões, enquanto o desenrolar da música vai crescendo em dinâmica. O ouvinte é de tal forma embalado que nem percebe, até que o saxofone encerre solenemente essa bela faixa.  

3° – Genesis – Dance on a Volcano

Dance on a Volcano abre as cortinas da nova fase do Genesis, já sem Peter Gabriel, contando com os vocais e a bateria do formidável Phil Collins. O Genesis já mostrava uma grande maturidade musical e construções musicais cada vez mais inteligentes. A instigante introdução prepara o terreno para um estouro rítmico, que acompanha uma linha vocal muito bem elaborada. As variações entre o marcante tema principal e os versos são acompanhadas de uma virtuosa demonstração de compassos pouco convencionais. As partes finais da música são recheadas com trechos pesados, conduzidos pela guitarra e pelas várias camadas de teclados. Tony Banks aumenta sensivelmente a variedade de timbres de teclados usados e dá um show a parte nesse espetáculo de som que abre o álbum A Trick of the Trail.  

2° – Rush – 2112

A faixa que dá nome ao quarto álbum do Rush representa um passo a frente, em termos de refinamento e ousadia, do material pregresso que a banda havia gravado. Uma longa suíte, repleta de variações e climas distintos, deixa o ouvido boquiaberto pela musicalidade e pela conexão fluida entre as diferentes ideias. A introdução é particularmente chamativa pela precisão dos ataques conjuntos da bateria, do baixo e da guitarra. Os vocais agudos de Geddy Lee dividem a opinião de uma parcela dos fãs, mas são o tempero ideal para a voracidade dos temas. Alex Lifeson é um grande destaque nessa faixa, pelos solos marcantes e um timbre único de guitarra. As versões ao vivo dessa faixa davam ainda maior destaque ao peso da cozinha composta por Lee & Peart.  

1° – Camel – Lunar Sea

A faixa que encerra o clássico álbum Moonmadness é um acerto em todos os sentidos – a introdução climática, o ritmo pulsante e o tema explosivo de guitarra são absolutamente marcantes logo na primeira audição. A música é um raro balanço entre sofisticação e um apelo pegajoso. O longo solo de sintetizador na seção central da música, por Peter Bardens, é outro ponto alto da música, seguido pelo esplêndido solo de guitarra de Andy Latimer. O encerramento dessa fantástica faixa instrumental é outro belo exercício de dinâmica na música, como se fechasse um ciclo perfeito com a introdução.    


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