Por Marcus Larbos
Vocalista das bandas Panaceah e Liverking
Apresentador do programa Melting Point Rádio RST

Com o surgimento da internet e consequentemente de uma globalização pungente, as relações sociais passo a passo foram mudando e se adaptando a uma nova realidade, fazendo com que através, principalmente, das redes sociais e de grupos virtuais, o conceito de relação interpessoal seja cada vez relegado aos contatos virtuais, já que hoje em dia se conversa mais por celular do que nunca, desde festas, trabalho e até mesmo em casa, o que define um claro sintoma do fim das relações físicas no âmbito social.

Como era de se esperar diante dessa nova demanda, gradativamente começaram a surgir vários fóruns de discussão e posteriormente grupos setorizados nas redes sociais de hoje em dia, e o nicho música e especialmente o rock tem se feito muito presente nesse aspecto.

Como benefício temos o mundo de bandas em nossas mãos, coisas que talvez iríamos morrer não iriamos conhecer e acesso rápido, tudo na palma da mão, mas perdemos um pouco do nosso calor humano por conta das lives e esses acessos digitais, mas o underground sempre superou qualquer barreira e as mudanças nunca irão acabar com o rock. (Jefferson Tcheco – Vocalista da banda Ceiffador e Produtor do Heavy Drink)

Heavy Drink Rock Club (Jefferson Tcheco)

Isso se dá principalmente por conta dos vários estilos e subdivisões e que angariam fãs fiéis em toda parte do planeta, o que muitas vezes em sentido figurado se torna quase que uma religião ou uma irmandade segmentada.

Atualmente o que podemos notar são as várias polarizações sociais virtuais, gerando rusgas e rupturas tanto nos tais grupos quanto até na própria família por conta de temas como ideologias político/partidárias, religião, futebol ou qualquer outro posicionamento que vá de encontro ao gosto e opinião alheia, e evidentemente o bom e velho rock and roll não poderia escapar dessa.

Acredito que a internet trouxe uma melhora muito grande com relação a divulgação das bandas e de seus produtos. o lado negativo é a falta de interesse por parte do público em adquirir o material físico das bandas; Também há o excesso de trabalhos sem qualidade pois como ficou fácil gravar, qualquer um grava um disco, o que não significa que será um trabalho bem feito. (Marcelo Ledd – Baterista da banda Hicsos)

Marcelo Ledd / Banda Hicsos

Por conta dessa realidade comportamental foi criado mais um neologismo para resumir os padrões de certas pessoas: os “haters”.

Essa nova espécie é encontrada em vários locais virtuais e com os mais variados propósitos, e no rock isso se faz também de uma forma bastante passional e até agressiva, pois dependendo da personalidade do indivíduo, isso vira parte da pessoa e até o define no grupo social.

Geralmente são seguidores fervorosos sejam de bandas clássicas e ícones dos anos setenta bem como de estilos mais específicos de público como o heavy metal e suas subdivisões ou mesmo o rock progressivo.

Em termos de possibilidade de conhecimento a se adquirir, a internet é maravilhosa. Eu mesmo devo muito do meu conhecimento musical (não de teoria musical, mas de audição) as possibilidades trazidas pela internet, sou “cria” disso. Dois outros grandes feitos propiciados pela internet – a cultura colaborativa e de compartilhamento, e a proximidade que podemos alcançar com pessoas que admiramos. Por outro lado, em termos de divulgação, a internet foi/é uma grande ilusão. A engrenagem só gira rápido se for na base de muita grana, como sempre foi na época da mídia impressa, do rádio ou da TV. A única diferença é que coisas inusitadas podem vir a se tornar “virais” e ganhar uns 5 minutos de fama. Ainda que seja uma ferramenta poderosa, é muito difícil crescer com ela, principalmente porque o número de bandas/artistas que tentam crescer da mesma maneira é inimaginável e o público é extremamente fragmentado. (Ronaldo Rodrigues – tecladista das bandas Arcpelago e Caravela Escarlate)   

Ronaldo Rodrigues / Banda Arcpelago

Dessa forma a pessoa cria um “avatar” e se esconde por trás de um computador, ficando mais seguro e confortável para expor seus gostos pessoais de bandas e estilos; sendo assim pode então questionar, criticar e atacar verbalmente qualquer um que não compartilhe ou que discorde totalmente da sua opinião, ocasionando fim de amizades, bloqueios e expulsões de grupos.

É evidente que todos temos nossas predileções como poderia se esperar de indivíduos com peculiaridades e personalidades únicas, e nem sempre o que você acredita, ama e considera maravilhoso pode ter o mesmo impacto em outra pessoa e isso é um detalhe primordial tanto de convívio social como de maturidade e resume – se em uma só palavra : Respeito.

Portanto principalmente o público de rock, que sempre foi considerado transgressor, questionador e livre, pode e deve se livrar desse estigma que só serve para desagregar tanto a vida particular do próprio sujeito como também o rock em questão que já está tão “liquefeito” e polarizado; Que cada um tenha o seu gosto, mas que todos tenham respeito!


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