A história do grupo holandês começa com o baixista Peter Vink e o baterista Beer Klaase, egressos do Q65, um dos principais grupos de rock da Holanda na década de 60. No começo dos anos 70, o Q65 estava se desmanchando. O baixista Peter Vink já demonstrava grande interesse pelo rock progressivo do Yes e congêneres, adotando, inclusive o modelo Rickenbacker para seu instrumento (sob influência de Chris Squire). Já o baterista Beer Klaase era vidrado em jazz e no Cream, e estava bastante impressionado com as fusões da Mahavishnu Orchestra.

Os dois músicos fundaram uma nova banda, batizada de Kjoe, para adentrar nesses terrenos mais ousados do rock do período.  O Kjoe tinha Frank Nuyens nas guitarras, mas um acidente aconteceu e o guitarrista deixou o grupo após breve período. Seu lugar é ocupado por Ronnie Meijer, que futuramente viria a integrar dois famosos grupos holandeses, o Livin ‘Blues e o Earth & Fire. O Kjoe se completava com o vocalista Jonnny Frederiks, mas tanto esse quanto Meijer ficam pouco tempo na banda, e saem em busca de algo mais rentável. A empreitada do Kjoe fracassou completamente e a dupla Vink-Klasse decide partir para outra. O ex-manager do Q65 fala para Peter Vink sobre um jovem prodígio na guitarra chamado Joop van Nimwegen, um garoto de apenas 19 anos na época, que tinha como heróis guitarristas de blues-rock como Eric Clapton e Peter Green, mas também venerava John McLaughin’ e Steve Howe.  

Peter Vink marca um encontro com Joop van Nimwegen e pouco tempo depois os primeiros ensaios já aconteciam na cidade de Haia. Nesse período de ensaios, uma série de audições com vocalistas acontecem, mas nenhum consegue se fixar na posição para a nova banda que os garotos formavam. Um deles, Dickie Koppenhagen, chegou até a fazer um pequeno show e permanecer sete meses no grupo, mas a formação não perdura, inclusive com a partida de Beer Klaase. O tecladista Paul Vink foi admitido, mas o posto de vocalista ainda continuava vago, o que fez a banda decidir por adotar a linha instrumental. Vale ressaltar que nessa época (entre 73 e 74) a música instrumental estava em alta, com grupos como o Focus emplacando hits instrumentais e discos repletos de longas passagens instrumentais entre os mais vendidos. Tendo isso em mente, o grupo batiza-se como Finch, que é o equivalente em holandês a Vink, sobrenome de dois integrantes do grupo (e que por outra coincidência também faziam aniversário na mesma data).

Os meses seguintes foram de trabalho árduo para a banda – ensaios e composições consumiram muitas horas no porão de um clube em Haia.  A rapaziada se esforçava mas nada de uma oportunidade de gravar uma demo ou conseguir um contrato aparecia. O baixista Peter Vink, em paralelo, ajudou o empresário Eric Bruin a fechar com a banda Alquin, de cujos membros era amigo. Para retribuir a camaradagem, o Alquin cedeu a estrutura que tinham para que o Finch registrasse suas demos.

A EMI holandesa, surfando na onda de um hit internacional de um grupo pop local, resolve usar parte dos dividendos para investir em algum grupo de maior risco comercial. Esses recursos são repassados para a subsidiária Negram, que se depara com as fitas do Finch e resolve dar uma chance a eles. O orçamento não era alto, nem tampouco as condições de gravação muito favoráveis – apenas três dias de estúdio foram agendados para que gravações, mixagem e masterização fossem feitos. Mas considerando o entrosamento da rapaziada, o trabalho não foi difícil e contou com a ajuda do experiente produtor Roy Beltman. Porém, no meio das transas para que o álbum acontecesse, o tecladista Paul Vink abandona o barco. Uma rápida substituição é providenciada por indicação de uns dos técnicos do estúdio em que o Finch viria a gravar seu primeiro álbum – o aluno da Academia de Música local, Cleem Determeijer assume o posto. Em pouco tempo, o novo membro já estava integrado e dando suas contribuições para o repertório de Glory of the Inner Force, o primeiro álbum do grupo lançado em 1975.

Com apenas 4 longas composições, o disco traz uma vibrante energia sinfônica repleta de virtuosismo e dinamismo. Nele se destaca a guitarra de Joop van Nimwegen, cheia de personalidade. O álbum de estréia do Finch foi aclamado pela imprensa local, não apenas a mídia especializada, mas também jornais de grande circulação na Holanda e TVs. Alguns meses depois de lançado na Holanda, o disco também saiu nos Estados Unidos pela ATCO Records (subsidiária da poderosa Atlantic), rendendo uma resenha positiva na revista Billboard.

Com boa recepção de público e crítica, uma turnê por toda a Holanda é agendada, mas algumas trapalhadas na programação fazem com que a banda se apresentasse para plateias avessas ao rock, onde não foram bem recebidos. Mas nas ocasiões apropriadas, a banda era sempre ovacionada e logo criaram uma consistente base de fãs e seguidores, tendo inclusive concertos do Camel e do Hawkwind na Holanda. O clima entre os membros era muito bom, com o foco mantido na música e uma grande sintonia de objetivos.

Nessa onda positiva, a EMI demanda novo material, especialmente que pudesse ser também lançado como compacto. Para atender a gravadora, a banda inventa uma espécie de trilha sonora para um filme fictício, ocupando dois lados de um compacto com o nome Colossus, que deveria ser o nome do tal filme que só existia na cabeça dos membros da banda. Mas, com seriedade, a banda se esmerava na elaboração de um novo álbum. Os esforços culminaram em Beyond Expression, novo álbum do Finch que chegou ao mercado em 1976. Seguindo uma linha aprimorada a partir da experiência do primeiro álbum, o segundo álbum consegue superar o primeiro, trazendo uma mescla ainda mais surpreendente entre uma musicalidade intensa mas, ao mesmo tempo, cativante. Em Beyond Expression o Finch estabeleceu um território musical para chamar de seu, com uma marca bastante original trazida pela guitarra de Nimwegen, o baixo expressivo de Vink e as densas camadas de teclado de Determeijer.

A repercussão também foi bastante positiva na mídia e entre o público, o que gera maiores dividendos para a banda e uma turnê mais lucrativa.  O executivo inglês Mike Stone observa de perto a qualidade musical do Finch e lhes oferece a possibilidade de um contrato mais amplo, contudo a EMI aumentou a oferta para que o Finch permanecesse. A banda preferiu ficar na zona de conforto e manteve-se com a EMI holandesa, que havia também lançado o segundo álbum do grupo em países fora da Europa. No Japão, os discos do Finch vendiam tanto quanto os do Focus ou do Earth and Fire.

A situação começa a virar para o Finch com a saída do tecladista Cleem Determeijer, que ainda estudava na Academia de Música e visava se tornar concertista erudito. Pela falta de tempo para conciliar os compromissos com os estudos e com a banda, ele preferiu deixar o Finch. Seu lugar foi ocupado por outro competente tecladista, Ad Wammes, um amigo de longa de data de Joop Nimwegen. Com a nova formação e shows frequentes, o repertório para o terceiro álbum começa a ser elaborado, com a banda procurando seguir a trilha do sucesso do Genesis capitaneado por Phil Collins, que na época lotava estádios dos dois lados do Atlântico. Esse direcionamento, contudo, desagradou o baterista Beer Klaasse, que se mandou após cumprir mais alguns compromissos com a banda. Hans Bosboom assumiu seu posto.

Com a nova formação, o Finch foi atrás de uma oportunidade na Inglaterra e conseguiu descolar um contrato com a estampa Rockburgh Records, tendo também sido produzidos por um inglês, Sandy Roberton, que tinha trabalhado com vários grupos folk e também com Ian Matthews. O novo álbum, batizado de Galleons Of Passion mostra o Finch buscando se alinhar a metamorfose que surgia no cenário progressivo, reforçando o acento melódico das faixas, mas também adotando certa influência do fusion instrumental (que era um nicho bem sucedido de música instrumental no fim dos anos 70). Em termos musicais, o disco é novamente um acerto, mas a crítica dessa vez não acolheu também o novo trabalho do Finch, ainda que as vendas permanecessem quase no mesmo patamar dos álbuns anteriores. O número de apresentações ao vivo também foi diminuindo e o maior feito do período foi ter acompanhado o guitarrista Jan Akkerman (um admirador confesso do som do grupo) em uma tour pela Alemanha.

Mais alguns meses envoltos em mudanças de formação, o gás do Finch acaba; Joop von Nimwegen já estava com a cabeça em um possível trabalho solo (que infelizmente nunca se concretizou como preconizado) e havia uma resistência dos novos membros em executar o material do primeiro álbum da banda. Tudo isso fez com que a banda se desfizesse em 1978, deixando um legado de três ótimos álbuns instrumentais de rock progressivo.


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