O grupo Sebastian Hardie é um dos pioneiros do rock progressivo sinfônico na Austrália. Sua formação remonta ao ano de 1967, época em que a Austrália já se encontrava bastante antenada com o desenvolvimento do rock na Inglaterra e nos EUA.
Começaram em Sydney com o nome de Sebastian Hardie Blues Band, uma invenção de seu fundador, o guitarrista Graham Ford. Assim como muitos outros grupos da época, o repertório era composto de covers de r&b e standards do blues americano. Essa primeira empreitada durou muito pouco – no início de 1968 tudo tinha acabado. Mas Graham Ford não desanimou – procurou outros garotos para reformar a banda, mudou a orientação sonora (do blues para uma linha mais pop) e abreviou o nome do grupo para Sebastian Hardie, apenas. Até 1971 a banda seguiu nessa linhagem e conquistou boa reputação na cena local, que é importante ressaltar, era rica e repleta de ótimos grupos. O vocalista do Sebastian Hardie era um camarada chamado Jon English, que abandonou a banda para atuar na adaptação da peça Hair em Sydney.
O entra-e-sai de músicos foi freqüente na trajetória do Sebastian Hardie e até seu fundador se mandou – Graham Ford foi substituído pelo guitarrista Mario Millo. Mario era fã dos Beatles, do nascente rock progressivo e apreciador de música erudita. A banda já tinha um compacto na praça, lançado em setembro de 1973. Com a entrada de Millo, a banda veio um novo compacto, com as faixas Day After Day e Since You Left Me, em abril de 1974. A referida Day After Day era composição de Millo e já dava indícios do novo som do Sebastian Hardie. Nessa época, a formação da banda era Tovio Pilt nos teclados, Mario Millo na guitarra e vocais junto com os irmãos Plavic (Peter e Alex) no baixo e bateria, que eram os únicos remanescentes da primeira fase do Sebastian Hardie.
Além do material próprio já totalmente orientado para o rock progressivo, o grupo ainda incluía algumas releituras no repertório de seus shows, como uma aclamada adaptação para Tubular Bells, de Mike Oldfield. Essa guinada da banda culminou na assinatura de um contrato com a Polydor para a gravação de um álbum, e também com a abertura dos shows de Lou Reed e do Osibisa em Sydney.
A gravação do álbum de estréia do Sebastian Hardie aconteceu no início de 1975, sob a batuta de Jon English, ex-vocalista do grupo. O álbum Four Moments chegou no mercado em agosto daquele ano e teve boa repercussão entre público e crítica – atingiu a posição nº 13 na parada de álbuns da Austrália e o compacto com a faixa instrumental Rosana chegou a posição nº 31 nos charts locais. Calcado nas composições e idéias de Mario Millo, o álbum é claramente sinfônico, com muitas passagens reflexivas e melodias esmeradas, com muito equilíbrio entre os vocais e as partes instrumentais. A suíte Four Moments ocupava todo o lado A do disco, superando a marca de 20 minutos de duração.
No embalo da boa performance de Four Moments, um novo disco é concebido pela banda – Windchase. Em fevereiro de 1976 o segundo álbum do Sebastian Hardie chegou ao mercado pela Polydor, mantendo a mesma fórmula do álbum anterior e igual qualidade. Apesar da boa exposição (a banda acompanhou a tour australiana do Santana no começo do ano), o sucesso comercial não se repetiu. As questões financeiras e divergências entre os membros da banda sobre o gerenciamento da coisa toda gerou um racha no grupo. O próprio manager do grupo incentivou a divisão entre Millo e Toivo e os irmãos Plasvic, o que levou os remanescentes a brigarem judicialmente pelo nome Sebastian Hardie. O direito de uso do nome ficou restrito aos irmãos Plasvic, que estavam há muito mais tempo tocando juntos sob a alcunha de Sebastian Hardie.
Millo e Toivo, respectivamente guitarrista e tecladista do Sebastian Hardie aproveitaram então o nome do segundo álbum para batizar seu novo projeto – Windchase. Já os irmãos Plasvic passaram a ser músicos acompanhantes do grupo The Studs. O Windchase seguiu adiante na linhagem progressiva, com Millo aproveitando material escrito para o Sebastian Hardie que ainda não havia sido gravado. Seu novo material captava influências mais fortes do fusion e do jazz-rock, estilos bastante populares na Europa e EUA desde a metade dos anos 70 e também incorporava forte contribuição de Toivo nas faixas. Em pouco mais de um ano o Windchase teve três formações distintas, inclusive com mudança de formação em pleno processo de gravação de seu álbum, Symphinity. Em 1977 o álbum foi lançado pelo selo Infinity, uma estampa local, e nem o álbum e nem a tour de promoção lograram êxito – as atenções do público e da mídia já estavam contaminadas pelo simplismo do punk rock e da new wave. A falta de sustentabilidade financeira novamente foi determinante para encerrar as atividades do Windchase.
Ainda que Mario Millo tentasse uma carreira solo, que gerou um álbum em 1979, o cenário da música pop do período o desanimou a continuar tocando com banda. Nos anos seguintes o guitarrista se dedicou a composição e produção de trilhas sonoras para filmes. O Sebastian Hardie retornou aos palcos 18 anos depois de seu último show, em uma apresentação no conceituado festival ProgFest, nos EUA em 1994. Reuniões esporádicas foram acontecendo de modo a manter a banda ativa, ainda que longe da intensidade de atividades do período 1974 – 1976, até que um novo álbum do Sebastian Hardie surgiu em 2012, batizado de Blueprint. O trabalho mantém o alto nível do legado do Sebastian Hardie e revigora sua bem sucedida abordagem sinfônica e melódica.
O Jon English que você cita no texto, Ronaldo, é outro ícone do rock australiano. Sua carreira solo tem uma discografia longa e de respeito.
Que legal, Marco! bom saber…não o conhecia antes desse texto. Valeu, abraço!