Recentemente publicamos um texto tratando sobre alguns dos lançamentos de 2020 – veja aqui. Explorando um pouco mais a questão, segue um singelo ranking das faixas progressivas que considero dignas de destaque dentre os bons lançamentos deste ano.

10º – The Tangent – Life on Hold

A faixa que abre o último lançamento do grupo inglês The Tangent traz um clima frequentemente deixado de lado no progressivo contemporâneo, com seu ritmo swingado dentro do estilo fusion. Quando vemos esse tipo de abordagem ser usada em lançamentos recentes, parece haver um excesso de empolgação e a parte rítmica é contaminada por compassos não-convencionais, o que acaba gerando apenas “música para músicos”. Não é o caso aqui; o ritmo é empolgante e prontamente apreciável, com ótimas inserções de sintetizadores e clavinetes, e solos de guitarra suculentos. As linhas vocais também são muito bem encaixadas e a interação da bateria com o baixo impressiona. Em 5 minutos a banda passa o recado, dando um show de dinâmica e criatividade.

9º – Magic Bus – New Day

Os ingleses do Magic Bus praticam um rock progressivo mais heterodoxo, com frequentes referências a nomes associados (correta ou erroneamente) ao Canterbury Sound. New Day evoca um tanto de folk, com violões vibrantes, acompanhados por uma cozinha sólida e vocais divididos. O ar suave vai sendo acrescido de intervenções de órgão e sintetizadores, que dão um tempero muito especial a canção. O miolo da música traz interessantes variações, para que o clima inicial seja recuperado. No final, o arremate é dado por um belo solo de guitarra. Composição cativante.

8º – Bâmos Q Bânia – They Come

O álbum de estreia do grupo paulista Bamos Q Bânia aconteceu agora em dezembro; dois singles haviam preparado o terreno (as faixas Eletrolux e Revolução Estelar) e já prenunciavam o lançamento de um trabalho consistente nos terrenos progressivos. Dentro do álbum Filhos de Kuandú há muitos bons momentos, mas destacamos a faixa mais longa do trabalho e, curiosamente a única em inglês, They Come. Sua introdução é introspectiva e climática, até que uma explosão de ritmos acontece lá pelos 2 minutos, mantendo a tensão elevada, até que a seção central traz uma sequência viajante de timbres de guitarra e teclados, pontuadas por ricos ataques de bateria e baixo. Instrumentação caprichada em uma composição instigante.

7º – Arabs in Aspic – I Vow to the Thee, My Screen

Os noruegueses do Arabs in Aspic trouxeram para o mercado em 2020 um disco conceitual, baseado na relação dos seres humanos com a tecnologia. A faixa que abre o trabalho traz excelentes recordações de Genesis e Pink Floyd (da fase “Wish You Were Here”), na qual se destacam as notas dos sintetizadores viajando pelos alto-falantes e os belos vocais. O arranjo da faixa impressiona – a alternância entre as partes iniciais, mais escuras, e as partes finais, mais ensolaradas é fantástica, desaguando em um final dramático.  

6º – Causa Sui – Sole Electrico

O Causa Sui é uma banda dinamarquesa totalmente instrumental, com muitos discos já lançados. Sua principal virtude é conseguir fazer que longas faixas repletas de improvisos não soem enfadonhas. Nessa faixa em destaque, que é curta para os padrões da banda (5 minutos), temos um tom exploratório embebido em psicodelia, que remonta aos melhores momentos do kraut-rock setentista, mas sem cair na armadilha da experimentação infrutífera. Os timbres de bateria, baixo e guitarra são muito orgânicos e transportam o ouvinte para dentro da sala de gravação.

5° – La Maschera di Cera – Il Tempo Millenario

Os italianos tem tradição no rock progressivo, um fato inconteste. Seu envolvimento no estilo é tal que eles tem uma identidade muito específica ao praticá-lo, evidenciando uma saborosa carga de dramaticidade e lirismo. Se tem uma faixa que sintetiza o espírito do rock progressivo italiano em 2020, essa faixa é Il Tempo Millenario, misturando magistralmente aquela coisa sinfônica com uma certa insanidade, registrada de forma bela e poderosa com a sonoridade do órgão, do mellotron, dos sintetizadores e das flautas, bem como adotando vocais em sua língua natal.      

4° – Eloy Fritsch – High Places (suíte)

O grande tecladista gaúcho Eloy Fritsch mergulhou fundo na abordagem fusion em seu novo trabalho, diferentemente de seu álbum anterior (o excelente Journey to the Future, dedicado ao prog eletrônico). Sua versatilidade fica patente, já que a suíte que abre o disco Moment in Paradise é embasbacante. Eloy é, ao mesmo tempo, elegante e furioso ao piano, fazendo fantásticas variações entre o piano acústico e o elétrico. O acompanhamento da bateria e do baixo ajudam a construir o clima sofisticado da suíte e as intervenções de sintetizadores também deixam clara a maestria de Eloy ao pilotar qualquer tipo de teclado. A composição, dividida em 4 partes, empolga o ouvinte ao longo de toda sua extensão.

3° – Wobbler – By the Banks

Os primeiros segundos que abrem o novo disco do Wobbler já deixam claro o status que esses noruegueses alcançaram no progressivo contemporâneo. Temos aqui uma faixa complexa, riquíssima em variações de climas, com vocais cativantes e passagens instrumentais bem construídas ao longo de seus quase 14 minutos de duração. A sonoridade do Wobbler traz muito do folk do norte da Europa, mas sem deixar de lado a energia e o dinamismo rítmico próprio do progressivo sinfônico setentista, resultando em um estilo que agrada simultaneamente fãs novos e veteranos do prog.   

2° – Siena Root – Have no Fear

Have no Fear tem jeitão de clássico – uma introdução marcante no baixo, com o clima sendo construído gradativamente, até a eclosão de todos os instrumentos em uma virada de bateria, que abrem alas para os vocais maravilhosos de Zubaida Solid. A canção pulsa como um shuffle espacial e a melodia vocal é acompanhada passo a passo pela guitarra. Difícil não se deixar levar pela viagem sonora propiciada por essa faixa do novo álbum dos suecos do Siena Root. No miolo, um interlúdio que remonta a “One of These Days” do Pink Floyd, pontuado por um solo de órgão, e finalizado com uma dobra vocal lancinante entre Zubaida Solid e Lysa Lystom.  

1° – Rikard Sjöblom’s Gungfly – On the Shoulders of Giants

São 14 minutos em que praticamente tudo que é possível no rock progressivo acontece. O melhor de tudo é o capricho com que cada parte dessa suíte é construída, desde sua memorável introdução, com guitarras marcantes, até a entrada dos vocais. Nessa parte, o ouvinte já está rendido por uma composição cheia de ganchos e melodias assobiáveis. Entre 5 e 6 minutos, os teclados pedem passagem em um clima mais suave, que desagua em uma seção cheia de quebras rítmicas, na qual novamente as guitarras e também o baixo assumem o leme do som. O final tem tensão e dramaticidade traduzidas por um belo solo de guitarra. Como bônus, o disco ainda traz uma faixa adicional chamada “Shoulders Variations”, derivada desta suíte, na qual se tem mais uma dose do melhor do rock progressivo.     


One reply to “Top 10 Be Prog – Parada Progressiva de 2020”

Leave a Comment