Continuamos nossa saga de mexer no vespeiro do universo progressivo e atiçar os leitores! Esse ranking tenta, em um esforço hercúleo, elencar apenas 10 grandes aberturas de música dentro do rock progressivo. A coisa ficou tão complicada que tive que limitar as escolhas para bandas dos anos 70 e discos de estúdio e que até para os medalhões do estilo a coisa ficou apertada. Lembre-se: em uma lista de apenas 10, há mais coisa fora do que dentro da lista. Mas, enfim, o resultado está aí para ser comentado e malhado!

Considerando que o rock progressivo tem como premissa justamente romper os padrões de estrutura das canções pop, caracterizar o que seria a “introdução” de muitas músicas prog é bem difícil (em casos até o conceito não cabe). Mas para pleno entendimento dos leitores é preciso estabelecer algumas balizas – são as seções iniciais das faixas, que podem durar de alguns poucos minutos ou se extender até 1 minuto ou mais. No caso de músicas com vocais, é a seção que antecede os vocais; no caso de músicas instrumentais, é possível identificar um “tema”, uma parte instrumental que funciona quase que como um refrão e a introdução é o que vem antes do início deste tema.

10º – Kansas – Journey from Mariabronn [Kansas, 1974]

Faixa do álbum de estréia de uma das principais referências progressivas nos EUA, na qual a interação entre guitarra, violino e sintetizadores é repleta de interlúdios e contrapontos. Riquíssima musicalmente, a introdução é vibrante e cheia de surpresas ao longo de mais de 1 minuto pela qual se desdobra. Não à toa, é uma das faixas favoritas dos fãs da primeira fase do Kansas. 

9º – Le Orme – Contrappunti [Contrappunti, 1974]

A introdução da faixa título do 5º álbum dos italianos do Orme é tensa e começa com uma linha solitária de órgão, que vai sendo repetida e sobreposta por diversas camadas de teclados. Cada nova camada vai deixando o clima lentamente mais dramático e gerando a expectativa que explode com a entrada da bateria e do baixo. Esses elementos aceleram a velocidade com que o clima aterrorizante é destilado nesta soturna faixa.   

8º – Camel – Lunar Sea [Moonmadness, 1976]

A soma dos teclados de Peter Bardens, as intervenções de percussão e os efeitos sutis da guitarra de Andy Latimer gerou um resultado belíssimo. A introdução pavimenta com perfeição o caminho para que a base seja introduzida (a linha de baixo e a condução da bateria) e o clássico tema da guitarra seja apresentado. Um exemplo perfeito de introdução climática, que leva o ouvinte a entrar dentro da paisagem proposta pela música.  

7º – Gentle Giant – Funny Ways [Gentle Giant, 1970]

A introdução mais curta dessa lista. São apenas 15 segundos, mas são 15 geniais segundos. Curta e certeira, a introdução tem um cruzamento absolutamente perfeito entre violino, violoncelo e viola, além da base magistral de violão. A frase musical executada mexe com os ouvidos e o coloca dentro dos próprios “Funny Ways” dos formidáveis músicos do Gentle Giant.

6º – Ethos – Intrepid Traveller [Ardour, 1976]

Nessa longa introdução, o subestimado grupo americano Ethos consegue a proeza de cruzar o lirismo similar ao do rock progressivo italiano com estranhices de bateria e baixo à la King Crimson para desembocar em uma tecladeria fusion. É uma introdução riquíssima e simplesmente embasbacante. 

5º – Argent – The Coming of Kohoutek [Nexus, 1974]

Outra introdução pródiga em pegar o ouvinte pela mão e levá-lo ao espaço sideral. Uma linha de mellotron e outra de sintetizador são entremeadas por estouros percussivos, aos quais é adicionada uma guitarra dedilhada calibrada de efeitos. O arranjo é simplesmente perfeito.

4º – King Crimson – Starless [Red, 1974]  

Difícil não se comover com a beleza fria do mellotron, do baixo e da bateria suave dessa introdução, que é repetida várias vezes ao longo dessa longa e maravilhosa faixa do King Crimson. Pouquíssimas notas são executadas e não precisaria de nenhuma outra a mais – o clima criado é perfeito para retratar o que a faixa apresenta para o ouvinte ao longo de sua extensão.

3º – Yes – Siberian Kathru [Close to the Edge, 1972]

O Yes, entre 1971 e 1972, era incapaz de fazer algo que não fosse de altíssimo nível em suas músicas. No caso dessa faixa, a introdução tem muitos elementos incríveis – a guitarra solitária e dinâmica de Steve Howe abrindo alas para a chegada da cavalaria rítmica, que por sua vez, prepara o terreno para o marcante tema executado pelos teclados de Rick Wakeman. Esse tema por sua vez é pontuado pela guitarra de Howe que aplica um maravilhoso fraseado. No decorrer dessa introdução é possível ouvir cada um dos instrumentos fazendo um caminho independente, que converge para o único objetivo de fazer a felicidade do ouvinte. PS: Bill Bruford fez dobradinha aqui na lista.

2º – Emerson, Lake and Palmer – Karn Evil nº 9 [Brain Salad Surgery, 1973]

Escolher apenas um som do ELP para essa lista foi como fazer um sorteio, porque há dezenas de opções possíveis. A escolha ficou pela mais longa suíte gravada pelo grupo que tem uma abertura fantástica de Keith Emerson no órgão Hammond e que depois é pontuada de forma suntuosa com o baixo de Greg Lake e a bateria de Carl Palmer. Apesar de ter quase 30 minutos de duração, Karn Evil 9 tem uma introdução bastante curta, mas é que pura eficácia.

1º – Genesis – Watcher of the Skies [Foxtrot, 1972]

A introdução dessa faixa é tão icônica que era também a abertura dos shows do Genesis na tour do álbum Foxtrot, que foi o começo da escalada da banda rumo ao sucesso. É também um dos mais belos momentos registrados com o mellotron de todos os tempos. Tony Banks transita entre climas reflexivos, pomposos e dramáticos com muita naturalidade ao longo de pouco mais de 1 minuto. A introdução de Watcher of the Skies é quase que uma peça a parte; algo que tem vida própria, ainda que se conecte com perfeição com o desenrolar da faixa.


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