Não há dúvidas de que os países escandinavos são atualmente um dos pólos mais prolíficos de produção de rock progressivo. Toda a variedade de subestilos que o rock progressivo abrange também ali se faz notar, mas impressiona o quanto grupos daquela área são especialistas em mergulhar o ouvinte na rica sonoridade da década de 1970. Em destaque hoje, apresentamos a banda Jordsjø, um grupo capitaneado pelo multiinstrumentista Håkon Oftung. Os trabalhos se iniciaram em 2014 em Oslo, Noruega, e tem por característica a adoção de sua língua no canto e nos títulos das canções.

Desde 2015 a banda vem lançando trabalhos consistentes e no final de maio de 2019, lançou seu 4º álbum, Nattfiolen. Este álbum só ficará de fora da lista de melhores lançamentos do ano para aqueles que não o conhecerem. Muitos adjetivos positivos brotam do álbum em cada uma de suas faixas. O álbum foi gravado no estúdio particular de Oftung e produzido pelo próprio. Podemos pensar que apenas grandes estúdios podem gerar um som de respeito, mas é impressionante como este álbum foi bem gravado e transpira uma sonoridade orgânica em todas suas faixas; um verdadeiro primor para os fãs da sonoridade setentista. 

A sutil abertura com “Ouverture” vai revelando lentamente todo o universo sonoro de Nattfiolen, até que uma eclosão melódica vem com “Stiffiner”, um variado espectro de rock sinfônico, faixa que relembra (talvez involuntariamente) os melhores momentos de grupos como Strawbs e Fairport Convention, acompanhados por uma excelente seção rítmica. Ao longo de quase 8 minutos, a participação de flautas, teclados, vocais sutis e linhas de baixo inteligentes, alterna climas magistralmente. A faixa é uma síntese bem descrita de tudo o que a vertente sinfônica do rock progressivo tem a oferecer para o ouvinte.

Outra característica marcante no álbum é a presença dos violões, que fazem fantásticas intervenções em diversas faixas, seja em dedilhados de grande valor melódico ou em passagens rítmicas. A guitarra jazzista se cruza com o ar soturno de “Solens Sirkulaere Sang”, cujo miolo revela uma seção mais pesada e dramática. É impossível não se transportar para o ar de suspense presente nas geladas florestas européias. Ao mencionar violões, é necessário falar sobre a pequena jóia acústica do disco, a faixa “Septemberbål”, curta e de beleza marcante. A introdução de “Mine Templer” e sua levada fazem jus à tradição do jazz-rock/prog sueco (mencionado com uma das principais influências do grupo), misturando melodias e harmonias tipicamente americanas com a tradição vocal européia. “Til Våren” já é mais dinâmica, com diversas seções e estrutura de suíte e o fechamento com “Ulvenatt”, faixa que é climática e melodiosa ao extremo, conduzida inteiramente pela guitarra.

Não há nada que desabone o álbum – o instrumental é de altíssimo nível, as composições são cativantes e a sonoridade é perfeita. Nattfiolen está disponível em todos os formatos – CD, LP e streaming. Ignorar este trabalho é um desserviço aos ouvidos.


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