O Pink Floyd dispensa grandes apresentações, já que trata-se da mais famosa e reconhecida banda de rock progressivo de todos os tempos. Em 1977, o quarteto inglês era dono de um prestígio abissal. Dark Side of the Moon (1973) e Wish you were Here (1975) venderam como água e colocaram a banda no topo do mundo. Em 1976 a banda começou a preparar o que viria a ser seu décimo disco de estúdio, Animals.

O Pink Floyd possuía um acordo com a Harvest, selo que lançava os discos da banda, de ter uma porcentagem menor de royalties pelas vendas dos álbuns em troca de ter tempo ilimitado em estúdio para conduzir seus trabalhos. Este acordo havia expirado em 1975, ano no qual a banda investiu em um grande imóvel no norte de Londres para convertê-lo em um estúdio próprio. Em abril do ano seguinte, tudo estava pronto para receber a banda e assim começou a gestação do novo álbum, que consumiu todos os meses restantes de 76 para ser concluído. O álbum tem o DNA de Roger Waters em sua elaboração, arranjos, composições e conceito. Dave Gilmour na ocasião celebrava o nascimento de seu primeiro filho e os outros dois membros da banda foram pouco consultados no processo de criação do álbum.

Roger Waters geriu o conceito do novo trabalho baseado na fábula “Animal Farm” do célebre escritor George Orwell, destilando metáforas críticas ao capitalismo e ao establishment inglês da época. Há também quem afirme que a motivação para tal temática tenha sido uma espécie de reação aos questionamentos levantamentos pelas bandas punks da época, que tinham como um de seus alvos os excessos estéticos do rock progressivo. Duas composições que a banda já tinha foram retrabalhadas para Animals: “Raving and Drooling” (que se transformou em “Sheep”) e “You’ve Got to Be Crazy” (que virou “Dogs”). Ambas já vinham sendo executadas ao vivo na tour de Wish you were Here com arranjos ainda não definitivos. A fórmula utilizada no álbum anterior foi mantida aqui, com canções mais longas e cheias de partes distintas. Musicalmente, Animals traz algum dos momentos mais refinados do Pink Floyd registrados em disco, com um excelente balanço entre melodias marcantes, riqueza de arranjos, variações ritmicas e exploração de sons (sintetizadores e efeitos). As 3 faixas mais longas (“Dogs”, “Pigs” e “Sheep”) do álbum são um primor do rock progressivo da segunda metade dos anos 70, trazendo um Pink Floyd bastante dinâmico. Dave Gilmour registrou neste álbum algumas de suas melhores performances na guitarra e Rick Wright investiu em uma sofisticada variedade de timbres em seus teclados.

Logo após a conclusão das gravações, o estúdio de design Hipgnosis (que já havia trabalhado com a banda nos álbuns anteriores) começou a trabalhar na capa de Animals. O conceito para a capa foi trazido pelo próprio Roger Waters, que quando jovem morava nas imediações da usina de energia de Battersea. Além disso, a banda havia contratado uma companhia alemã (que fabricava os aeroveículos Zeppelins) e um artista australiano para construir um balão em formato de porco como uma espécie de mascote, que recebeu o nome de Algie. A história ao redor do mascote é bizarra – Algie foi lançado ao céu primeira vez em dezembro de 76 para ser fotografado. Um atirador foi contratado para abater o “veículo” (que era de grandes dimensões) caso ele se desprendesse das cordas; contudo o clima estava desfavorável, adiando a fotografia que seria feita do mascote para compor a capa e nisso o pior aconteceu – Algie se desprendeu (o atirador não estava mais lá) e começou a vagar sem rumo, afetando inclusive o espaço aéreo do aeroporto de Heathrow. Alguns dias depois, Algie caiu em uma fazenda próxima a Kent e foi recuperado após negociações com um irritado fazendeiro, dono do local onde o balão caiu. Os trabalhos foram retomados para a fotografia, que precisou contar com um belo trabalho de edição e montagem para atingir o resultado visto na capa de Animals.

O álbum chegou as lojas no fim de janeiro de 1977 e poucos dias depois foi lançado na América. O disco foi bem recebido pela crítica de modo geral, e o desempenho nos charts foi excelente – número 2 na parada inglesa de álbuns e número 3 na parada americana. No mesmo dia do lançamento na Inglaterra (23 de janeiro) uma tour mundial foi iniciada na cidade de Dortmund, na Alemanha, se extendendo até o mês de julho de 1977. A banda já contava com um segundo guitarrista (Snowy White) para os shows da época. Snowy White inclusive chegou a gravar um solo no disco, cujo original de Gilmour havia sido perdido por um erro de edição de Waters e Richard Wright. Contudo, o solo de White não entrou na gravação do LP, cujo trecho foi limado na masterização.

A tour foi um pouco complicada, retratando a quantas andava o relacionamento entre os membros da banda. Roger Waters ia sozinho para os locais das apresentações e se mandava do lugar quase imediatamente após o término do show; havia desconfiança de que os managers estavam manipulando a contabilidade de público da banda e Richard Wright manifestou seu desejo de deixar de fazer parte da banda como membro fixo. A dupla Water-Gilmour estava se irritando com certas atitudes da plateia nos shows, que naquela ocasião ocorriam apenas em estádios e grandes arenas, devido a grande demanda. Um episódio ocorrido no show final da tour, em Montreal no Canadá, levou Waters a tal ponto de irritação que ele cuspiu em algumas pessoas que estavam na frente do palco fazendo uma algazarra. Seu descontentamento o levou posteriormente a desenvolver o conceito do álbum seguinte, The Wall, baseado na alienação das pessoas e seu comportamento enquanto massa.


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