O rock progressivo é um estilo disseminado por todo o mundo há décadas. Mesmo em países sem tradição em exportar sua música internacionalmente a linguagem progressiva rompe barreiras, e sempre é encontrada por uma inconsciente irmandade de admiradores ao redor do mundo. Desta vez estamos aqui para resenhar um trabalho lançado recentemente pela banda Lucy in Blue, da pequena e isolada Islândia.

Se para europeus e asiáticos eventualmente soa exótica a existência de bandas progressivas do Brasil ou da América Latina, para nós também soa exótico a existência de uma banda prog vinda de um país tão pequeno (com menos de 500.000 habitantes) e com boa parte de seu território coberto por gelo. Este feito por si só vai muito além de mera curiosidade. Há muita qualidade em In Flight, segundo álbum da banda lançado pela Karisma Records (Noruega) em CD e LP, em 12 de abril. O quarteto foi formado em 2013 e conta com Steinþór Bjarni Gíslason (guitarra e vocais), Arnaldur Ingi Jónsson (teclados e vocais), Kolbeinn Þórsson (bateria) e Matthías Hlífar Mogensen (baixo e vocais). O show de lançamento do álbum ocorreu no conceituado festival Roadburn, que ocorre anualmente na Holanda.

A identidade da banda já é cristalizada de imediato nas duas partes da faixa de abertura, Alight. A bateria conduz algo como um blues lento sob o qual repousa uma sutil e misteriosa harmonia conduzida pela guitarra, com a mesma fórmula que tornou célebre o Pink Floyd. Uma tema de teclado vai tornando o clima mais denso para a entrada de uma refrescante melodia vocal, até sermos conduzidos a um rock psicodélico pesado e soturno. A faixa que a sucede, Respire, rememora os climas de grupos alemães como Eloy e Novalis em seus momentos mais introspectivos. O ouvinte é conduzido magistralmente ao longo dos quase 8 minutos nos quais a canção se desenvolve. Já a faixa Nuverandi é um dos principais destaques do álbum, com sua bela introdução de violão intermediada por uma precisa linha de baixo, sucedida por um belo tema de teclados embalado em uma base melodicamente esculpida. A faixa título do álbum, apesar de manter presente toda a influência do Pink Floyd, soa um pouco mais contemporânea e conectada ao estilo post-rock, ainda que embalada em uma sonoridade envolvente e totalmente inspirada pelo rock dos anos 1970. O encerramento vem com On Ground, uma viagem absoluta.

Apesar do álbum ser calcado em músicas lentas e climáticas, há momentos em que as composições caminham em um terreno mais exploratório ritmicamente, no qual podemos associar sua sonoridade com a fase inicial do King Crimson ou até mesmo com grupos italianos como Museo Rosenbach e Metamorfosi. Vale destacar a qualidade instrumental do grupo, na precisão da execução dos instrumentos, o esmero nos arranjos e uma sonoridade que remete diretamente aos anos 70. Outro ponto de grande destaque é o cuidado com os vocais, tanto na elaboração das linhas vocais quanto nos timbres de voz dos garotos. Tudo bastante apreciável e recomendável para fãs da vertente mais sideral do rock progressivo.


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