O Nektar foi uma banda formada por ingleses baseados em Hamburgo, na Alemanha. Durante a década de 60 era comum jovens músicos ingleses buscarem os palcos alemães, já que diferentemente da Inglaterra, o público alemão valorizava mais a musicalidade do que o “hype” do rock e r&b pré-Beatles. Em 1969, Allan Freeman (teclados), Roy Albrighton (guitarra), Derek Moore (baixo) e Ron Howden (bateria) formariam o Nektar, com o propósito de fazer um rock inovador e experimental. A banda ainda contava com um quinto membro, responsável apenas pela parte visual e todo aparato de iluminação dos shows – Mick Brockett. Esta ousadia toda despertou a atenção da garotada alemã e, em pouco tempo, um contrato foi firmado com o selo Bellaphon. Depois da estréia com o álbum Journey to the Center of the Eye, em 1971, o Nektar passaria a investir em longas suítes e aprimorar ainda mais suas composições e os arranjos de suas músicas.

Com o material já pronto para um novo álbum, o produtor da banda Peter Hauke levou a turma para o Studio One, de Dieter Dierks. Dieter Dierks se tornaria, nos anos seguintes, o mais famoso produtor do rock alemão, conhecido especialmente por sua duradoura trajetória junto com o Scorpions. Dieter Dierks começou com um pequeno estúdio instalado no quintal da casa de seus pais, em uma vila próxima da cidade de Cologne. Tendo conseguido uma boa repercussão entre a nova geração de músicos e um hit na praça (com a canção pop Loop di Love, de Jay Bastos) Dieter adquiriu novos equipamentos para incrementar seu estúdio e em 1972 já contava com uma das melhores estruturas disponíveis para gravações na Alemanha. Duas semanas no começo do mês de outubro de 1972 foram reservadas para o Nektar gravar integralmente as canções que comporiam A Tab in the Ocean. Naquela época tudo era feito muito rápido – mixagem, masterização e prensagem – e com a arte já trabalhada paralelamente pelo artista gráfico Helmut Wenske, o disco chegou ao mercado europeu logo no mês seguinte. No Brasil, o disco chegou a ser lançado, mas apenas em 1974 pela estampa One Way dentro da série Sábado Som Internacional, que lançou também outros discos de bandas européias como Karthago, Omega, dentre outros.

Uma grande evolução em relação ao primeiro disco se percebe logo nos primeiros segundos de A Tab in the Ocean, uma estonteante suíte de 16 minutos que ocupa todo o lado A e alterna com maestria trechos vibrantes com passagens inteiramente reflexivas. A faixa seguinte, Desolation Valley, é profundamente introspectiva e tem lindas transições entre o tema principal e os versos com uma levada jazzista. Esta faixa se emenda com Waves, uma calma viagem sonora com letra declamada por Roy Albrighton. As músicas seguintes trazem uma abordagem mais pesada e espacial, com ritmos pulsantes – Crying in the Dark e King of Twilight (esta última inclusive teve uma releitura pelo Iron Maiden, em um compacto lançado em 1984). Todo o disco é permeado por belos trechos instrumentais, com o quadro musical democraticamente dividido entre os quatros instrumentos e boas linhas vocais, sejam as melódicas ou as de apoio. Tudo é repleto de um capricho instrumental que azeita as cativantes composições do álbum. Apesar do título do álbum e da longa faixa que o batiza, o álbum não é conceitual. A Tab in the Ocean descreve experiências alucinógenas, sendo “A Tab” um tablete de LSD em um trocadilho com o termo “A Drop in the Ocean” (uma gota no oceano).

O trabalho gráfico do álbum merece destaque, com a bela capa elaborada pelo artista gráfico Helmut Wesken. Helmut trabalhava para os selos Bacilus e Bellaphon e desenhou também artes para as bandas Jeronimo, Pell Mell, Orange Peel, Nine Days Wonder, Omega, e os álbuns seguintes do Nektar. Para a contracapa de A Tab in the Ocean, Helmut fez uma colagem de imagens do pintor holandês Hieronymus Bosch. No encarte da prensagem original a banda agradece a diversas pessoas, como a mãe de Dieter Dierks, mencionando as “calorias” obtidas (provavelmente a mãe de Dierks servia alguns quitudes para a rapaziada) e também agradece ao Brasil pelas risadas, mas a origem da menção é desconhecida e provavelmente está relacionada a algum passeio dos membros da banda por estas terras.

O álbum teve boa aceitação no mercado europeu, mas não foi o ápice comercial da banda. No fim de 1973, com o disco Remember the Future, a banda ficaria bastante conhecida na Europa e nos EUA. Este álbum foi o primeiro da banda lançado nos EUA e a partir deste sucesso é que o restante do catálogo pregresso da banda foi também lançado por lá.


3 Replies to “Radiografia de um clássico – Nektar: A Tab in the Ocean (1972)”

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